Reflexão

Não há nada bom ou mau, mas o pensamento o faz assim...
Shakespeare, William

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Entender o que não conhecemos

Ninguém ensina com uma ruptura drástica das realidades do aprendiz, é sempre prudente partir dos elementos que a vivência do aprendiz apresenta e inserir lentamente novos conteúdos, em um processo de assimilação constante. Assim é como dita o senso comum, por que Deus, que é a suprema inteligência e o infinito de todas as virtudes, haveria de ser imprudente que o menor dos pedagogos terrenos?
Obviamente, a natureza humana, seja em sua face material ou espiritual, não apresenta alterações em sua constituição íntima, porque é  composta por inteligência e sentimento, atributos do espírito imortal que transita entre o mundo físico e o espiritual.
Portanto, precisamos nos desvencilhar dessa visão partida da vida, de crer que os desencarnados são seres fora da natureza, sobrenaturais ou que a vida na condição de desencarnado seja absolutamente diversa da condição física, isso é apenas verso e reverso do mesmo tecido, nada mais.
Do ponto em que se para o aprendizado numa condição se segue na outra e assim em nossas existências sucessivas. É preciso banir o medo dos espíritos, que tanto mal faz a muitas pessoas. Como sentimento, é uma criação divina, é fruto de uma lei natural que se manifesta na evolução do instinto de conservação, e é necessário.
Exerce uma função primordial na nossa constituição e não pode desaparecer. No entanto, existem medos que são insuflados pela cultura e pela religião no imaginário dos crentes e que os desequilibra severamente.
Pois, o pior medo que podemos abrigar é o medo imaginário, ou seja, daquilo que não podemos confrontar com a razão ou com a vivência objetiva. Aqueles medos oriundos dos conceitos e crenças que permitimos se alojar em nossas mentes, sem reflexão. Nestes se inserem o medo dos espíritos desencarnados e da vida após a morte.
 Apresentada em duas vertendes do pensamento humano: de uma lado o sobrenatural com seu cortejo de criaturas mística distante e divorciadas da realidade experimentada na matéria. Nele floresce o domínio do maravilhoso, é o campo fértil a semeadura dos medos imaginários, aprisionadores. Emoção que facilita a posse de mentes pouco feitas a ponderação e ao questionamento e que temerosas ou em pânico, fustigadas pela culpa, caem na dependência inescrupulosa daqueles que  exploram a fé alheia. É a seara preferida dos falsos profetas da terra e da erraticidade.
De outro lado, a vertente do materialismo, do nada, menos numerosa, mas bastante divulgada, imperando nos meios da ciência acadêmica, e dentre aqueles cujo saber é nascente causa de orgulho. Podemos incluí-los naqueles que possuem o complexo de Deus, admitir uma inteligência maior, uma compreensão maior, seria dividir seu império interior e pessoal, partir sua auto imagem e revelar a fragilidade do orgulho e do poder humano.
Entre os primeiros, há a crença de que procedimentos mágicos afugentam seres inteligentes e afetivos, características que não reconhecem, é óbvio, nos espíritos desencarnados, imaginando que estes são transformados após a morte em "santos", "almas penadas" ou "demônios", e que, as necessidades deles se acalmam com fumaça, velas, perfumes, rezas decoradas e pagas, ou com amuletos de sorte que a engenhosidade da mente humana for capaz de criar, a grande maioria ridícula. Tudo porque não oferecem algumas horas do precioso tempo ao ato de pensar na vida e na morte, de observar a natureza e dela depreender as leis imateriais que a regem.
Os segundos, tudo atribuem a disfunção dos  orgãos materiais do corpo e a todos os caos, sem se deterem em detalhes, como, por exemplo: a aferição do senso crítico daquele que diga ter contato com os mortos e a coerência das informações, lançam a conta da desordem da anatomia ou da química cerebral.
Na vida, em qualquer setor, posturas sectárias e dogmáticas não são construtivas, refletem a ilusão de donos da verdade. Analisar e reter o que é bom é um conselho de sabedoria e prudência que nos foi legado pelo apóstolo Paulo (Primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses. Capítulo 5, versículo 21 ), que vara os séculos sem, contudo, perder a validade.
É preciso refazer caminhos. A evolução se assemelha a correnteza de um rio, tem força e leva de roldão as águas e o que nelas existir, sua atuação se dá nos limites do leito dos rios. Nós somos as águas, enquanto rolamos no leito do rio, nossa jornada evolutiva segue tranquila e serena, se a existência nos apresenta leve, sem tropeços e entraves sérios. Mas se nos desviamos dos limites do leito do rio nos perdemos em zonas pantanosas de águas paradas e pútridas, sem renovação, que somente as tempestades limpam e arejam empurrando-as com a força das enxurradas.
É a dor obrigando a refazer caminhos, mas não precisamos sofrer para aprender, ao contrário, o aprendizado é seivado por prazer, amplia a liberta as capacidades da alma humana.
Refazer caminhos quanto ao entendimento da naturalidade da experiência humana, dentro ou fora da carne, é libertador, por excelência. 

Lei da Evolução

Uma das fases mais difíceis de superar na construção da consciência, no convívio com a espiritualidade é o chamado pensamento maravilhoso ou sobrenatural. Entendemos como dimensões desligadas, opostas e absolutamente distintas onde o que se viveu, aprendeu e experimentou em uma é inútil na outra. Onde as necessidades psicoafetivas e as percepções da vida serão de tal modo distintas, que impoem as pessoas uma transformação ao passar de uma a outra, é uma forma de raciocinar simplória, se é que podemos chamar a isso de raciocínio.
O provável é que se trate apenas de um dos muitos comportamentos preconcebidos que se reproduz fruto do bin^mio cultura-religião que afasta, em especial o homem ocidental da compreensão da unidade e das realidades da vida imortal, de sua natureza, das leis divinas e da compreensão da lei do progresso.
Ora, como haveria progresso em nosso espíritos se as experiências e condições de vida na matéria fossem distintas das condições espirituais? Esse pensamento é frontalmente contrário a lei de progresso, e, aliás, impeditivo.
O progresso se realiza gradativa e constantemente no esforço que produz mudanças lentas e seguras, ampliando nossa inteligência, nosso universo emocional, nossa razão, até nos conscientizarmos do que seja viver, do proprósito supremo de que tudo, desde o corpo, as experiências triviais do cotidiano, os processos cíclicos da vida, onde se inclui o nascer, o morrer e o renascer, até os mais altos voos da inteligência e da sabedoria, serve e são ferramentas a construção do aprendizado e realização da lei de evolução.

Consciência...

O processo de tomada de consciência é interessantíssimo, constante como as rodas de um moinho, que a cada instante recebem a energia das águas em suas pás, movendo a roda e colocando em funcionamento uma intrincada engrenagem. Com isso, posso dizer que o nosso processo de tomada de  consciência intelectual nem sempre acompanha a tomada de consciência moral. Ocorrendo frequentemente uma acirrada cobrança, razão de divergências no nosso convívio social, pois, queremos que todos tenham compreensão idêntica a nossa, o que é impossível. É provável que a pá onde esta nosso companheiro de jornada, de quem cobramos essa ou aquela atitude esteja, ou abaixo ou acima da nossa, portanto a roda da vida oportuniza a ele uma compreensão maior ou menor.
E sendo assim, existem aqueles que, ao receberem a força das águas, giram, e giram por várias vezes, sem tomar consciência do que vivenciam, agindo mecanicamente, em geral, ausentes da própria existência, entretidos com o que se passa num mundo distante ou na vida alheia, vivendo e intrometendo-se nas experiências de terceiros, com frequência na dos seus familiares.
As leis da vida são simples, a questão é que nem todos as veem, apenas as enxergam, o que é bem distante um fator do outro. Estão ausentes e não sabem, como crianças em sala de aula, riem ou choram dos acontecimentos que geralmente elas mesmas produzem, mas insistem na ausência no processo de viver. Retardam a tomada de consciência, dispersos em jogos sociais e psicológicos que não levam a bom termo. Crescem lentamente, repetindo inúmeras vezes a mesma conduta.
Um bom exemplo, quando estamos diante de uma construção antiga, tomamos consciência de que estamos em um espaço entre o passado e o presente, onde uma história esta escrita nos tijolos, no gesso, na madeira, nas pedras, e nós não temos consciência disso.

O exterior atrai, o interior cativa.

Existe na mente humana a inata concepção da transitoriedade das coisas materiais, mas que é sufocada pela ilusão da onipotência e da perpetuidade, frequentemente utilizada por aqueles que ainda não vislumbraram os caminhos desconhecidos da espiritualidade.
Nestes há a consciência de que o interior é tudo e o exterior, mero reflexo da vida maior, ainda velada.
Porque será que não percebemos, que escrevemos a história com nossas mãos? Não damos conta e ficamos alheios ao que fazemos, vivemos maquinalmente. Nossas mãos e a cabeça ocupam-se de coisas diferentes e podendo até a dizer alheias, um estranho divórcio operado entre nós e por nós. É como se quiséssemos que as horas e os dias passassem acelerados, sem atentarmos para o que foi feito.
A mente, os interesses, sempre distantes da ação concreta que realizamos. Não vejo e muito menos creio que seja essa uma atitude muito saudável. Observo essa conduta em muitas pessoas, pura e simplesmente porque não dão atenção ao momento que vivem.
E o mais incrível, é tudo tão simples, por que temos tanta dificuldade com isso? Será cultural? Uma falha na nossa educação? E o mais engraçado é que hoje exigem que estejamos ligados e fazendo funcionar várias coisas ao mesmo tempo. As vezes me sinto como se fosse um "benjamim" daqueles que se conecta em tomadas e ligamos vários utensílios elétricos, um dia dá um curto circuito, pega fogo e babau, acabou. Mas, ainda assim, não enxergamos, ou não aprendemos os limites da natureza.
É até ridículo, pois falamos tanto em limites, limite pra cá, limite pra lá, limite pra esse, limite pra aquele e, para nos mesmos não enxergamos. Somos até capazes de ligar um "benjamim" no outro. Pior é notar quando falamos para alguém que o problema é atenção, isso é encarado como algo banal e de fácil solução. Meu Deus não é assim.
Essa ausência que é em última análise a falta de atenção, é grave, impossível recuperar as nossas ausências, os espaços vazios que deixamos nas horas passadas, e digo que não tem como preencher esse vazio histórico, não tem como refazer atitudes e escolhas onde nossas mãos trabalharam e nossa mente voou, divagou, não refletiu, esta feito, como uma pintura, passada a tinta, está feito, sem bem ou mal só o tempo vai dizer.