Ninguém ensina com uma ruptura drástica das realidades do aprendiz, é sempre prudente partir dos elementos que a vivência do aprendiz apresenta e inserir lentamente novos conteúdos, em um processo de assimilação constante. Assim é como dita o senso comum, por que Deus, que é a suprema inteligência e o infinito de todas as virtudes, haveria de ser imprudente que o menor dos pedagogos terrenos?
Obviamente, a natureza humana, seja em sua face material ou espiritual, não apresenta alterações em sua constituição íntima, porque é composta por inteligência e sentimento, atributos do espírito imortal que transita entre o mundo físico e o espiritual.
Portanto, precisamos nos desvencilhar dessa visão partida da vida, de crer que os desencarnados são seres fora da natureza, sobrenaturais ou que a vida na condição de desencarnado seja absolutamente diversa da condição física, isso é apenas verso e reverso do mesmo tecido, nada mais.
Do ponto em que se para o aprendizado numa condição se segue na outra e assim em nossas existências sucessivas. É preciso banir o medo dos espíritos, que tanto mal faz a muitas pessoas. Como sentimento, é uma criação divina, é fruto de uma lei natural que se manifesta na evolução do instinto de conservação, e é necessário.
Exerce uma função primordial na nossa constituição e não pode desaparecer. No entanto, existem medos que são insuflados pela cultura e pela religião no imaginário dos crentes e que os desequilibra severamente.
Pois, o pior medo que podemos abrigar é o medo imaginário, ou seja, daquilo que não podemos confrontar com a razão ou com a vivência objetiva. Aqueles medos oriundos dos conceitos e crenças que permitimos se alojar em nossas mentes, sem reflexão. Nestes se inserem o medo dos espíritos desencarnados e da vida após a morte.
Apresentada em duas vertendes do pensamento humano: de uma lado o sobrenatural com seu cortejo de criaturas mística distante e divorciadas da realidade experimentada na matéria. Nele floresce o domínio do maravilhoso, é o campo fértil a semeadura dos medos imaginários, aprisionadores. Emoção que facilita a posse de mentes pouco feitas a ponderação e ao questionamento e que temerosas ou em pânico, fustigadas pela culpa, caem na dependência inescrupulosa daqueles que exploram a fé alheia. É a seara preferida dos falsos profetas da terra e da erraticidade.
De outro lado, a vertente do materialismo, do nada, menos numerosa, mas bastante divulgada, imperando nos meios da ciência acadêmica, e dentre aqueles cujo saber é nascente causa de orgulho. Podemos incluí-los naqueles que possuem o complexo de Deus, admitir uma inteligência maior, uma compreensão maior, seria dividir seu império interior e pessoal, partir sua auto imagem e revelar a fragilidade do orgulho e do poder humano.
Entre os primeiros, há a crença de que procedimentos mágicos afugentam seres inteligentes e afetivos, características que não reconhecem, é óbvio, nos espíritos desencarnados, imaginando que estes são transformados após a morte em "santos", "almas penadas" ou "demônios", e que, as necessidades deles se acalmam com fumaça, velas, perfumes, rezas decoradas e pagas, ou com amuletos de sorte que a engenhosidade da mente humana for capaz de criar, a grande maioria ridícula. Tudo porque não oferecem algumas horas do precioso tempo ao ato de pensar na vida e na morte, de observar a natureza e dela depreender as leis imateriais que a regem.
Os segundos, tudo atribuem a disfunção dos orgãos materiais do corpo e a todos os caos, sem se deterem em detalhes, como, por exemplo: a aferição do senso crítico daquele que diga ter contato com os mortos e a coerência das informações, lançam a conta da desordem da anatomia ou da química cerebral.
Na vida, em qualquer setor, posturas sectárias e dogmáticas não são construtivas, refletem a ilusão de donos da verdade. Analisar e reter o que é bom é um conselho de sabedoria e prudência que nos foi legado pelo apóstolo Paulo (Primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses. Capítulo 5, versículo 21 ), que vara os séculos sem, contudo, perder a validade.
É preciso refazer caminhos. A evolução se assemelha a correnteza de um rio, tem força e leva de roldão as águas e o que nelas existir, sua atuação se dá nos limites do leito dos rios. Nós somos as águas, enquanto rolamos no leito do rio, nossa jornada evolutiva segue tranquila e serena, se a existência nos apresenta leve, sem tropeços e entraves sérios. Mas se nos desviamos dos limites do leito do rio nos perdemos em zonas pantanosas de águas paradas e pútridas, sem renovação, que somente as tempestades limpam e arejam empurrando-as com a força das enxurradas.
É a dor obrigando a refazer caminhos, mas não precisamos sofrer para aprender, ao contrário, o aprendizado é seivado por prazer, amplia a liberta as capacidades da alma humana.
Refazer caminhos quanto ao entendimento da naturalidade da experiência humana, dentro ou fora da carne, é libertador, por excelência.