"O tempo pode ser um sábio conselheiro, mas, se não compreendido de forma correta, pode ser tornar um inimigo do seu tempo".
Quando nos vemos obrigados a
encarar problemas e contrariedades, o tempo costuma ser um grande consolador.
Ele apazígua as culpas, incita ao perdão, dá consciência e renova as esperanças
perdidas. É conselheiro fiel, indicando a hora certa para empreendermos novos
planos com segurança.
A pressa, ansiosa e
inconsequente, apenas confunde as peças do grande jogo da vida. Aquele que crê,
tem fé sincera, abraça a confiança inabalável, consegue na paciência arquitetar
as melhores ações para tecer um amanhã melhor. Pois, na tranquilidade da espera
nos tornamos precavidos e serenos para construirmos o nosso amanhã.
Há casos porém, em que pessoas
não usam o tempo a seu favor, e isso só faz agravar desarranjos e acentuar as
contrariedades. Tornando o tempo, longe de ser o bálsamo que alivia e consola.
O tempo passa a ser um evidenciador de conflitos não resolvidos, trazendo para
o presente feridas mal cicatrizadas e embaralhando as cartas do destino.
Existe lógica nesta aparente
contradição, o tempo obedece a uma das leis universais da Criação: ele se
processa em ciclos. Cada fase deve se completar integralmente, cumprir sua
função dentro do panorama geral de desenvolvimento de uma dada situação. Por
vezes, sentimos que não há saída para nossos problemas, mas, de um ponto de
vista maior, isento e distanciado, aquele momento de sofrimento e desordem pode
ser compreendido como um degrau, um patamar dentro da harmonia geral, da ordem
mais vasta que é imperceptível para a pessoa que se encontra no estágio que lhe
parece limitado e confuso.
É como um aspiral, cada volta de
sua corrente parece horizontal e isolado, mas não é assim, as etapas são
progressivas e, apesar da aparente mobilização, seguem uma tendência
inescapável em direção ao alto.
A lei da evolução é absoluta,
devemos encarar o mal, as crises, as dúvidas e fracassos na nossa jornada
existencial, apenas como quedas. Por vezes, acreditamos ter regredido, ficando
presos a acontecimentos desagradáveis, tropeços alheios ou pessoais que nos constrangem
e, aparentemente nos atrasam. Mas, embora isso nos assuste, tais contrariedades
não são retrocessos, e sim, estamos aprendendo e crescendo incessantemente, e o
regresso não passa de uma ilusão que fere e constrange, mas que também incita a
lutar e seguir em frente, pois, só a um caminho: o do aperfeiçoamento moral.
Mas, devemos nos atentar a
repetição de faltas, a multiplicação de erros e culpas, pois, são de fato uma prisão. Mesmo não caindo jamais para
estágios mais atrasados, o espirito vem a sofrer quando se vê estagnado,
girando à toa num determinado ponto de seu desenvolvimento. O segredo é que nós
mesmos somos os detentores da chave que destrava a cela dos dissabores que nos constrangem.
Contudo, só nos libertamos quando
aprendemos a encará-lo como aprendizado, uma lição. Entendendo como um impulso
para que o espirito sai do lodo da indecisão, do momento de isolamento, do giro
em falso, e retorne enfim ao fluxo de aperfeiçoamento, de subida em direção ao
objetivo maior da existência, que é o bem.
As pessoas que aceitam ficar
pressas a seus preconceitos, nas rígidas regras de conduta, feridos em seu amor
próprio e que se sentem ofendidos por não ter da vida as satisfações exigidas a
força, são exemplos claros daqueles que estão estancados na jornada e derrapam
sem sair do lugar. São pessoas que abrem mão de seu progresso para dar voltas e
mais voltas sobre as mesmas mágoas e dissabores. Essas pessoas correm o risco
de amargarem dolorosa derrota de suas
intenções frente a seus atos e escolhas.